Claudia Raia anunciou estar grávida do terceiro filho aos 55 anos. Relato da atriz nas redes sociais indica que a gestação foi natural (sem métodos de reprodução assistida), o que está gerando dúvidas sobre a gravidez após os 50 anos.
+ Sangramento de implantação é sintoma de gravidez, mas pode ser confundido com menstruação
+ Tudo o que você precisa saber sobre fertilização in vitro
Conforme os registros de Nascidos Vivos do Datasus, entre 2018 e 2020, das mais de 8,5 milhões de crianças nascidas no período, apenas 1,2 mil são de mães acima dos 50 anos. Amanda Volpato, ginecologista especialista em reprodução humana e sócia-fundadora da Clínica Hope, detalha: “A gravidez sem o auxílio de métodos de reprodução humana após os 45 anos é extremamente rara, chance de 0,03%, segundo estudo do Columbia Hospital for Women em Washington (EUA), e após a menopausa (entre 45 e 55 anos) ela não tem mais chances de ocorrer, uma vez que não temos mais ciclos menstruais e ovulações”.
Alberto Zaconeta, ginecologista, professor adjunto de obstetrícia da Universidade de Brasília e vice-presidente da comissão de Gravidez de Alto Risco da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), complementa que gravidezes espontâneas nesta faixa etária raramente chegam ao final. “Acima de 45 anos, a taxa de aborto espontâneo é maior que 90%, geralmente porque o embrião tem alterações genéticas”, explica.
Ambos os profissionais destacam que técnicas de reprodução assistida garantem mais sucesso na gravidez tardia. Amanda indica o uso de óvulos congelados no passado (processo que deve ser realizado até os 35 anos) ou tratamento de fertilização in vitro com óvulos de doadoras.
Os ricos da gravidez tardia
Além de maior risco de aborto espontâneo, mulheres que passam pela gravidez tardia estão mais suscetíveis ao diabetes gestacional, hipertensão e piora de outras doenças crônicas já existentes, pontua Alberto. “Nesse sentido, é muito importante uma avaliação criteriosa e uma conversa franca sobre os riscos antes de recorrer a essas técnicas”, destaca o professor.
A médica complementa que a idade favorece, ainda, a chance de pré-eclâmpsia e doenças cromossômicas, como Síndrome de Down. Ela informa que tais fatores ocorrem pois, nesta faixa etária, cerca de 90% dos óvulos apresentam algum tipo de defeito genético.
“Para amenizar esses fatores que podem afetar negativamente a saúde da futura mamãe, hábitos de uma rotina saudável são essenciais. O indicado é prezar por uma alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas, além de um acompanhamento com um médico especialista em reprodução humana”, indica a ginecologista.
Devido ao alto risco para mãe e bebê, o pré-natal da gestação tardia demanda pré-natal especializado, com maior frequência de exames e consultas.
Parto após os 50 anos
Os especialistas ressaltam não haver via de parto pré-estabelecida ao fator idade. Contudo, Amanda pondera que o tipo de parto deve sempre considerar a saúde e bem-estar da mulher, assim como o nível da placenta — “caso esteja um pouco baixa, o indicado é a cesárea”.
Por fim, Alberto alerta que, além dos cuidados médicos habituais, é importante o suporte social e emocional para essas mulheres. “Uma vez que o bebê sonhado se concretiza em um filho real, com demandas reais, há necessidade de ajustes na dinâmica funcional e emocional da nova família”, conclui o professor universitário.